Futuro da Indústria #06
Neste edição falo sobre indústrias que já fazem outsourcing de manufatura, principais motivos fazem empresas não adotarem o outsourcing de usinagem no centro de sua estratégia e mais.
Nas últimas semanas, realizamos alguns encontros com lideranças de empresas fabricantes de máquinas e equipamentos para discutir servitização, dentro e fora de casa e outros temas ligados ao futuro da indústria. Ao mesmo tempo que sinto que os temas são inéditos para muitos, vejo outros colegas com conhecimento profundo e até experiências práticas de aplicação dos conceitos. Seguimos na nossa missão de criar uma massa crítica industrial para trocar pensamentos sobre novos modelos de negócios na manufatura.
Caso você conheça pessoas que estão em posição estratégica na indústria de manufatura, principalmente nos ramos de máquinas e equipamentos, por favor, me indique para eu bater um papo sobre o Futuro da Indústria.
Obrigado por ler o Futuro da Indústria. Apoie meu trabalho divulgando este conteúdo e se cadastrando para receber as novidades.
Subscribed
Se você recebeu esta newsletter de um amigo, clique aqui para se inscrever e receber diretamente.
Se gostar dessa edição, não esqueça de enviar para seus amigos e parceiros também lerem. Me ajude a montar um grupo de discussão de altíssima qualidade sobre a indústria Brasileira. Basta clicar abaixo.
O velho normal - outsourcing de manufatura nas indústrias de alimentos, eletrônicos, fármacos e cosméticos.
Nos debates que tenho sobre o futuro da indústria, com empresários e presidentes do ramo de máquinas e equipamentos - em sua maioria -, um tema central recorrente é que, na minha visão e acompanhando algumas tendências, o fabricante de máquinas e equipamentos poderá se tornar próximo de uma montadora. Ou seja, o foco e seu core business se intensifica nas etapas pré e pós manufatura e boa parte da manufatura é terceirizada, ou até mesmo, toda a manufatura. Caldeiraria tradicional, usinagem, quadro elétrico, programação e outros itens que compõem uma máquina, costumam ter uma grande oferta no mercado de prestadores de serviço.
Puxado pelas facilidades e conveniências da economia “as-a-service”, contratar manufatura sob demanda tem avançado em diversos segmentos por contribuir para um negócio mais flexível, menor custo fixo e maior especialização técnica.
O mercado de máquinas e equipamentos é muito heterogêneo, possui diversos subsegmentos e ainda diversos perfis administrativos, passando por controle de multinacionais até empresas no controle familiar há diversas gerações.
Naturalmente, encontro a questão da migração de fabricante para montadora em diferentes graus de maturidade neste mercado.
Quando olhamos para outras indústrias, como eletrônicos, alimentos, automóveis, fármacos e cosméticos, por exemplo, a terceirização da manufatura é algo muito mais avançado e praticado.
O caso dos produtos alimentícios das grandes redes varejistas
Nas grandes redes de supermercados, é comum encontrar marcas de produtos que são propriedade da própria rede. Ao ler o rótulo de um produto destes, você consegue facilmente encontrar as informações do fabricante do produto, geralmente nos dizeres “fabricado por” e “comercializado por”.
Isto nos mostra que o valor agregado, além de um produto de qualidade boa, está no ponto de venda, disponibilidade e credibilidade da marca. Voltando a curva sorriso (se você não conhece o conceito, pode acessar mais informações aqui), fica claro que as etapas pré e pós manufatura, são mais valorizadas e geram mais retorno neste caso.
Duas marcas, uma fábrica
O mesmo ocorre com dois produtos diferentes que são fabricados pela mesma fábrica e possuem preços totalmente diferentes e se posicionam em categorias opostas, como premium e popular.
Um exemplo amplamente discutido são os Ketchups das marcas Heinz e Quero, ambos fabricados em uma planta fabril comum.
Novamente, o que isso nos mostra é que o valor agregado está mais associado ao branding e marketing do que a manufatura.
Concorrendo no mercado, nascido no mesmo berço.
Outro caso que sempre comento e estudo é o caso da fábrica de carros Magna Steyr, que monta diversos modelos de diversas marcas em sua planta na Áustria. Eles fabricam modelos de baixo volume e alto valor agregado para diversas marcas. Saiba mais aqui.
Um coração, várias marcas
O mesmo fenômeno ocorre na indústria de eletrônicos. Celulares, impressoras, notebooks e outros. Me recordo, quando eu era criança, em 1995 meu pai comprou o primeiro computador da nossa casa. Existiam os computadores “montados” e os de fabricantes. Entre os modelos de fabricantes, na época do “Pentium”, as ofertas mais comuns eram os Itautec Infoway e os IBM Aptiva. Optamos por um Itautec Infoway Pentium com 75Mhz,com kit multimida e Windows 95.
Eu não sabia, mas a indústria de computadores, desde o início dos anos 1990 havia migrado para o modelo de montadores. Em pouco tempo, surgiram fábricas de montagem terceirizada que se consolidaram nos anos 2010 com a fabricação dos Iphones da Apple - o maior exemplo de estudo de caso de curva sorriso. Hoje, diversos bens eletrônicos são fabricados em fábricas agnósticas a marcas e logotipos.
Relatos de fabricantes de máquinas e equipamentos que desistiram do Outsourcing de usinagem
Em minhas conversas sobre o futuro da indústria, encontro empresas fabricantes de máquinas e equipamentos em diversos estágios no caminho da migração de fabricantes para montadoras.
Algumas empresas porém, iniciaram este movimento quanto as peças usinadas de seus equipamentos e voltaram atrás. Estes casos muito me interessam e eu tenho me dedicado a explorar os motivos e sentimentos que levaram a este retorno.
Costumo dividir estes casos em três grandes grupos. Mindset, Preparação Falha e Modelo Estrutural do Supply Chain.
Mindset. Em geral, empresas que não consideram o modelo de montadores, ou tem aversão a ele costumam ter uma visão, ou mindset, que manter tudo dentro de casa garante prazo, qualidade e custo, além de “mostrar” para o mercado uma estrutura imponente. Novamente, na minha visão, não existe certo ou errado, estes argumentos podem fazer sentido para alguns mercados e algumas empresas e não faz para outros.
Preparação Falha: este é um grupo de argumentos que acabam tendo uma origem em comum. As experiências negativas no outsourcing de usinagem está aqui relacionada a problemas que tem em sua causa raiz a preparação falha da estratégia de terceirização. Vou explorar isso em outro artigo com maior profundidade, mas a linha geral aqui é que projetar e usinar dentro de casa é diferente de projetar e fabricar fora de casa.
Modelo Estrutural do Supply Chain: por fim, parte das experiências negativas que costumo ouvir das empresas que desistiram da terceirização da usinagem, está relacionada ao modelo estrutural de como o supply chain de usinagem spot está estruturado. Quando ouço experiências de empresas que compram peças usinadas spot e de empresas que vendem tais peças, fica claro que alguns mecanismos simplesmente não funcionam. Novamente, este tema será aprofundado em artigos futuros, mas para apresentar um exemplo, ilustro o caso abaixo.
Uma empresa que compra peças usinadas está projetando uma nova máquina e precisa saber o seu custo. Para isso, ela pede orçamentos do pacote de peças usinadas. Centenas de peças são direcionadas para dezenas de fornecedores que agora tem o árduo trabalho de cotar, peça a peça.
É um grande desafio encaixar a prioridade de realizar estas cotações, ocorre com o dia a dia da empresa de usinagem, que tem como core business usinar peças e não cotar, entre outras atividades administrativas.
O cliente fica frustrado que não recebe os preços das cotações, ou se recebe, a variação de preços é enorme e o fornecedor também se frustra por não saber qual a real chance de venda desta cotação, para dedicar mais ou menos energia, em um mercado que converte 3% das cotações emitidas.
Acesse as edições anteriores clicando aqui
Esta newsletter é uma publicação pessoal que contém apenas minha opinião e visão pessoal. Ela não representa nenhuma marca, empresa ou instituição citada.