Futuro da Indústria #03
Porque as empresas de manufatura precisam inovar em modelos de negócios, um panorama da servitização da manufatura, a importância dos empregos na manufatura, o crescimento da IA e mais...
Quanto mais bate-papos sobre o futuro da indústria eu tenho com pessoas estratégicas da indústria de manufatura, em especial ao segmento de fabricação de máquinas e equipamentos, mais eu vejo que estamos na hora certa de se discutir, testar e aplicar novos modelos de negócios. Comecei a ter conhecimento de testes já realizados, tendências já sendo implementadas em outras filiais de empresas e diversos outros elementos que mostram que o tema já saiu da inércia.
Estou constantemente buscando diretores, presidentes e pessoas estratégicas de empresas de manufatura, do segmento de máquinas e equipamentos, para debater o futuro da indústria. Se você conhece alguém com esse perfil, por favor, indique meu contato.
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Porque as empresas de manufatura precisam inovar quanto ao modelo de negócios?
Este tema é a base do que eu estudo há mais de 6 anos. Recentemente recebi de um colega, o estudo da EY, intitulado, “Why Industrial companies need to lead business model innovation” ou “Porque as empresas de manufatura precisam liderar a inovação em modelos de negócios”, na tradução livre. Você pode acessar o documento original e completo aqui.
Preparei um breve resumo do estudo:
Por décadas, a inovação na indústria de manufatura se baseou em melhorias incrementais de produto ou expansão de mercados. Eu acrescentaria a evolução de processos neste tópico.
Focar somente na inovação de produto, que é a forma mais tradicional de inovação na indústria, não captura o valor de novas receitas e a tão desejada diferenciação.
Apenas 30% dos executivos do setor de manufatura entrevistados, têm como top três prioridades a inovação em modelos de negócios. Este número é bem diferente no ramo de tecnologia (55%) e no ramo financeiro (38%), que são setores com maior valor agregado na economia e geram maiores dividendos.
Os múltiplos de valuation de um negócio alcançam níveis maiores quando o negócio oferece uma oferta de assinatura (10 a 20x) vs uma venda de um bem (1 a 4x). Ou seja, o valor cresce quando saímos da economia de produto e vamos para a economia do serviço ou servitização.
O artigo cita quatro formas para criar novos modelos de negócios em empresas de manufatura:
Aumentando a proximidade com clientes e consumidores em toda a cadeia para se ter acesso à informações relevantes para posicionamento do valor ofertado.
Estabelecendo presença na cadeia de valor com forte posicionamento, a fim de alinhar as capabilidades e ofertas da sua empresa com a criação de valor mais valiosa da cadeia.
Mudança de modelo de receita de entrega de bens para entrega de valor.
Criando um ecossistema para inovar além dos limites do setor, dentro ou fora de casa.
Um dos exemplos que me chamou a atenção foi a de um fabricante de rolamentos industriais que saiu de uma venda transacional de produto, com pouco valor agregado, para uma venda de solução de uptime de fábrica, que permitiu uma relação mais próxima com seu cliente. Esta solução reposicionou o fabricante de rolamento para o elo mais próximo da cadeia e garantiu uma diferenciação perante os concorrentes. Rolamento é chave para uma planta de manufatura rodar, então, nada mais justo que entregar o valor final e não apenas parte dele (produto).
Autoteste para ajudar você a pensar nos gargalos e áreas de risco antes de entrar no processo de avaliação de novos modelos de negócios. Acesse o estudo completo aqui e vá até a página 13.
Servitização da Manufatura (Parte 1)
Nos últimos anos a nossa sociedade adotou a economia as-a-service (ou como serviço), rapidamente e muitas vezes sem perceber. Famílias venderam o segundo carro que ficava na garagem e hoje contam com apenas um carro e o resto das locomoções são via aplicativos de transporte. Pessoas rentabilizaram as casas de praia que até pouco tempo eram apenas passivos financeiros, através de plataformas de economia compartilhada e deram a oportunidade de outras pessoas viverem experiências de casas na praia como serviço, sob demanda.
Este movimento chegou no ambiente empresarial, onde podemos citar novas propostas de valor, como CFO’s as a service para empresas menores, contabilidade como serviço para que as empresas possam focar no seu core business, logística as a service impulsionada pela rápida evolução do e-commerce durante a pandemia entre diversos outros exemplos.
E a Manufatura? sim, a Manufatura também está sendo servitizada. Diversas empresas estão explorando este mercado, abordando as vantagens financeiras e contábeis de se alugar ativos no lugar da compra, baseada na tradicional conversa CAPEX x OPEX.
Em minhas conversas com pessoas estratégicas sobre o Futuro da Indústria, tenho aprendido bastante sobre modelos de servitização da manufatura. Abaixo relaciono alguns dos modelos que tenho visto serem discutidos, testados e aplicados:
Máquina como serviço: aluguel
Nesta modalidade, o fabricante de máquinas e equipamentos aluga a máquina no lugar de vender o ativo. Geralmente no pacote do aluguel, está contido manutenção e atualizações do equipamento para garantir que a produtividade seja sempre mantida e aprimorada.
Linha de produção como serviço:
Um conjunto de máquinas que executa uma operação ou uma série de operações é implementada através de um contrato de produtividade ou valor fixo. Operadores podem ou não ser integrados neste modelo.
Licenciamento de produção:
Uma empresa pode licenciar os seus produtos para serem fabricados em uma planta de manufatura “white label”. Você sabia que existe uma fábrica da Magna que fabrica o Mercedes Benz G-Class, o Jaguar I-PACE e E-PACE, os BMWs Z4 e Z5 e o Toyota Supra? Todos estes carros são fabricados na mesma planta ao mesmo tempo! Veja os outros modelos que já foram fabricados lá, como o Jeep Cherokee, Chrysler 300C e outros neste link.
Usinagem como serviço (ou Manufatura como Serviço):
Nesta modalidade, temos plataformas digitais suportando a distribuição de um processo de manufatura, e claro, cuidando de toda geração de valor ponta a ponta. Algumas empresas estão ajustando seus modelos de negócios, migrando de fabricantes de máquinas e equipamentos, para empresas de engenharia. Para suportar isso, uma fonte elástica e flexível de usinagem sob demanda é necessária. Se quiser saber mais sobre isso, posso te contar mais porque fundamos a Peerdustry Usinagem Conectada em 2017. Responda esse e-mail e vamos bater um papo.
Alguns outros exemplos ao redor do mundo são a Xometry, a Fictiv e a Hubs, que atendem, além da usinagem, outros processos de manufatura sob demanda.
E quais são os principais benefícios de se consumir manufatura como serviço? A resposta varia para cada segmento e indústria. Sendo que manufaturas de menor volume e puxadas por pedido, ou seja, não-seriadas, são as que mais se beneficiam deste modelo. Em resumo, as principais vantagens são:
Estrutura fabril flexível, aderente para picos e vales de produção.
Em alguns modelos, há menos complexidade de gestão de mão de obra e produção.
Redução do lead-time do produto final em alguns casos.
Estrutura empresarial mais leve e pronta para mudanças constantes, cada vez mais necessárias.
Em alguns casos, até para as manufaturas seriadas, a manufatura como serviço se aplica. Tome como exemplo o setor de alimentos. É comum vermos em um supermercado, dois produtos da mesma categoria, porém de marcas diferentes terem um mesmo CNPJ no campo produzido por no verso da etiqueta. Repare na próxima vez que você for comprar Ketchup por exemplo. O que ocorre neste caso, assim como no setor automotivo, onde os fabricantes de carros se tornaram montadoras, é que a manufatura que foge do core business, acabou sendo terceirizado, co-manufaturado ou licenciado.
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A importância dos empregos de Manufatura
Estive lendo um artigo do Peter Zelinski, diretor editorial da Modern Machine Shop.
Neste artigo, ele discute porque as cidades Americanas querem empregos de Manufatura, sob a ótica do movimento de reshoring, popularmente chamado de “Made in the USA”.
Ele me fez refletir sobre a natureza dos empregos de manufatura em relação a outros segmentos da economia. Entendo que a realidade que ele conta dos EUA é muito similar á nossa, no Brasil industrial.
Eu frequento plantas de manufatura, desde o chão de fábrica até as salas dos presidentes, desde 2010. Já vi e ouvi muitas histórias e uma história recorrente é da ascensão das pessoas nos empregos de manufatura. A história clássica é de um profissional, que começou há bastante tempo na empresa com o cargo de jovem aprendiz por exemplo, e hoje, é diretor de alguma área, ou diretor geral.
Este tipo de ascensão e principalmente, o caminho, que a manufatura proporciona para uma carreira é muito importante. Uma empresa de manufatura conta com uma hierarquia com várias fases e é possível atravessar todas elas com o tempo, capacitação e alinhamento com os objetivos da empresa.
Um fator relevante para que haja a mobilidade de cargos é o acúmulo de conhecimento proporcionado pelo estudo e pela prática. Sendo assim, a indústria é um ambiente que prega grande geração e distribuição de conhecimento, diferente de outros segmentos que apresentam menores camadas organizacionais e menos facilidade de se transitar entre elas.
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Inteligência Artificial e o avanço do ChatGPT.
Mesmo vivendo num ambiente de tecnologia e interagindo diariamente com fundadores de empresas de tecnologia que atuam em diversos mercados, confesso que me surpreendi com a velocidade que o mercado e a tecnologia em torno do ChatGTP avançaram nos últimos meses.
Em pouquíssimo tempo, vi uma alternativa viável para o buscador do Google, um vídeo do Co-pilot da Microsoft para ajudar o usuário a criar apresentações maravilhosas com poucos cliques através da inteligência artificial e até debates sobre a ética do conteúdo gerado por inteligência artificial (esta newsletter é 100% gerada por mim, manualmente, com base na minha visão de mundo e nas conversas que tenho com pessoas estratégicas da indústria de manufatura).
No ambiente da Manufatura, a inteligência artificial não é uma novidade. Tendo como base os dados obtidos das máquinas através de IoTs, apontamentos manuais de linhas de produção, dos processos industriais, da documentação de produtos ou processos, hoje já temos vários exemplos de aplicações concretas de inteligência artificial. Posso citar por exemplo a Birmind, uma empresa que usa IA para aprimorar processos industriais e reduzir perdas e falhas de processos.
As aplicações não param por aí. Testei uma ferramenta chamada Gptify.io, que permite carregar um documento e criar um chatbot com IA para com o conteúdo em questão. Exportei as edições anteriores desta Newsletter, a Futuro da Indústria, e criei um chatbot. Você pode fazer perguntas, em português sobre os assuntos que eu escrevo acessando este link.
E você, já imaginou o que poderia fazer com esta ferramenta? Que tal:
criar um assistente virtual a partir do manual de usuário da máquina que você produz.
criar um assistente virtual com base no seu catálogo de máquinas e produtos, incluindo características técnicas das máquinas, detalhes de peças de reposição, etc.
criar um assistente de setup de processos para otimizar o uso da máquina que você produz. Imagina seu cliente extraindo o máximo de valor da sua máquina com base em um histórico de dados de aplicação robusto?
criar um assistente para seu cliente escolher o melhor equipamento do seu catálogo para atender sua necessidade específica.
E muito mais…
O que mais estou lendo e dados interessantes atualizados:
3.7 MILLION VEHICLES MADE BY MAGNA STEYR. Uma única fábrica, dezenas de modelos e marcas concorrentes.
Feira Expomafe - a maior feira do setor metal mecânico da América Latina. Visite a feira para conhecer as novidades do setor de manufatura e venha tomar um café comigo. Estarei expondo com a Peerdustry no Estande C160 no Demonstrador de Indústria 4.0 da ABIMAQ.
Fostering innovation through a culture of curiosity
When Lenovo set out to transition into a services-led company, it began by looking internally, says Art Hu, Lenovo’s senior vice president and chief information officer.
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