Futuro da Indústria #02
Nesta edição falo sobre uma visão prática da curva sorriso no setor metal mecânico, grau de desenvolvimento do modelo de negócios de fabricantes de máquinas, uma discussão sobre reshoring e mais...
Estou muito feliz com a repercurssão da primeira edição da minha newsletter "Futuro da Indústria". Agradeço a todos que compartilharam o conteúdo com amigos e colegas. Agradeço também à todos que me buscaram ou aceitaram meu convite para tomar um café e discutir os novos modelos de negócios do futuro da indústria.
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Curva Sorriso e a comoditização da Manufatura (parte 2)
Se você perdeu a primeira parte deste assunto, acesse aqui.
Continuando o aprofundamento no conceito da curva sorriso no contexto do fabricante de máquinas e equipamentos, eu montei uma tabela com uma visão geral das fases do desenvolvimento do modelo de negócios com base nas conversas que tenho tido com diretores e presidentes de empresas do setor.
No geral, senti que o conceito é facilmente aprendido e faz sentido na maioria das empresas do ramo. Quando falamos sobre onde cada empresa está na busca por maior eficiência, e consequentemente, mais próximo de uma empresa de tecnologia e engenharia e mais longe de uma empresa intensiva em manufatura, observei que o cenário é bem heterogêneo. De um lado temos empresas que nunca consideraram a oportunidade de aliviar a parte de manufatura e fortalecer as áreas de conhecimento e marketing e do outro, conheci empresas que já foram ao extremo do outro lado da curva e se tornaram empresas de engenharia que montam máquinas e equipamentos e toda sua manufatura é terceirizada com especialistas.

Os principais pontos que me chamaram a atenção na construção e análise desta tabela foram:
a) Em geral, quanto mais próximo do “asset light”, ou seja, uma empresa com menos ativos, mais veloz ela consegue ser para se acomodar às incertezas econômicas do mundo contemporâneo.
b) Em geral, quanto mais próximo do modelo de montadora (ex Apple, Montadoras de veículos, etc), mais tempo e atenção é gasta com engenharia (conhecimento), pesquisa e desenvolvimento, inovação, branding e marketing. Curiosamente, são estes fatores que levam ao aumento de margem e valor de mercado.
c) Com uma estrutura mais simples, focada em conhecimento e engenharia, é necessária uma gestão mais simples e homogênea, focada em menos verticais.
d) A movimentação do negócio no sentido de centrado em manufatura para centrado em conhecimento gera necessidade de uma nova competência, a gestão do supply chain. Indo mais em frente ainda, nos modelos centrados em conhecimento apoiados por plataformas de manufatura, esta competência é terceirizada para a plataforma.
Eu gostaria muito de ouvir seus comentários sobre esta questão e também saber onde você classifica o momento da sua empresa. Basta responder este e-mail e falar comigo!
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Reshoring, nearshoring e friendshoring - qual a chance do Brasil?
A pandemia do COVID-19 e a Guerra na Ucrânia foram dois grandes fatores que levaram a uma nova reorganização das cadeias globais de valor. Inclusive, no discurso de posse do Ministro da Indústria, Geraldo Alckmin, inclusive cita a questão da oportunidade do Brasil se posicionar como parte relevante deste novo arranjo global, fazendo referência ao movimento conhecido como Reshoring, Nearshoring e até Friendshoring. Você pode ver o trecho do discurso no link abaixo, nos momentos 10:12 (cadeias globais de valor) e 20:32 (digitalização e indústria 4.0).
A ideia é muito agradável para nossos ouvidos, onde podemos, em um primeiro momento pensar que o Brasil poderá fornecer manufatura para países como EUA e outros países da Europa. Mas o que volta à tona é o velho problema da competitividade da nossa indústria de manufatura e do custo Brasil.
Você iria comprar um Iphone pelo dobro do preço somente porque é fabricado no Brasil? provavelmente não, e este é o padrão de decisão do mercado quando se avalia realocar a manufatura.
Tenho discutido que a agenda macroeconômica é extremamente importante, para trazer isonomia para o manufatura Brasileira através de ações em áreas como juros, acesso a capital, reforma tributária, etc. Outra agenda é a indústria 4.0, onde eu já trouxe uma perspectiva aqui.
Outra frente que eu acredito ser muito relevante é o modelo de negócios da manufatura. Eu acredito que paralelamente às pautas acima, devemos avaliar um novo modelo de negócios para a indústria de manufatura, baseado em conhecimento, engenharia, pós venda e serviços agregados, conforme preza a Curva Sorriso.
O potencial ganho de produtividade e competitividade adicionado ao setor industrial gerado através do melhor uso dos ativos de manufatura é grande, sem falar na capacidade de especialização da pequena e média indústria, o que reflete em qualidade e produtividade na segunda camada produtiva.
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Caso prático: Entendendo a comoditização da Manufatura no setor metal mecânico e na Usinagem
Quando pensamos na comoditização da Manufatura, é comum que as pessoas com formação mais técnica, como eu, sintam aversão a essa ideia. Ao mesmo tempo, quando olhamos um carro, que hoje é fabricado por uma montadora, que terceirizou boa parte da manufatura e ficou em sua posse com o design, a engenharia e o P&D, além da venda, pós vendas e serviços, vemos indícios reais que a manufatura, em geral, vem sofrendo um processo de comoditização.
Claro que esta é uma visão geral e não se aplica para todos e quaisquer segmentos industriais. Quanto mais tecnologia no produto e na manufatura, menos comoditizada ela é.
Voltando ao caso na indústria metal mecânica, vamos fazer um estudo de caso com um produto fictício que possui grande parte da sua manufatura constituída por usinagem, mais precisamente no processo de torneamento, realizado por um torno.
Na tabela acima, montei uma visão sobre dois momentos, um antes e outro depois da invenção do CNC (comando numérico) em um torno. Antes do CNC, o operador operava manualmente o torno e hoje, o operador programa o computador que faz a máquina repetir as rotinas com precisão. Para os leigos, pode ser comparado com uma “macro” numa planilha.
Minhas principais observações sobre a tabela acima:
a) A tecnologia (no caso CNC) eliminou o diferencial competitivo da manufatura do produto. Duas empresas com o mesmo modelo de máquina, podem executar exatamente o mesmo produto na mesma velocidade e qualidade.
b) O design do produto eventualmente pode ser um diferencial de custo. Por exemplo, desenhar uma peça com uma determinada geometria pode levar a mais tempo de usinagem do que outra peça com outra geometria otimizada para manufatura. O fim das duas peças pode ser o mesmo, assim como suas funções. Neste caso, o diferencial é engenharia e conhecimento e não a manufatura.
c) Com a capacidade de manufatura equalizada entre concorrentes, com máquinas semelhantes e principalmente, operadas por um CNC que repete as operações com eficiência e precisão, o diferencial de mercado de um determinado produto começa a ser determinado pelas extremidades da curva sorriso, ou seja, uma nova funcionalidade, característica ou utilização gerada por P&D, ou um novo design mais moderno, ou ainda uma venda com pós venda mais sólido ou até serviços digitais associados aquele produto.
Quanto a mais você pagaria em uma caixa de som bluetooth que tem Spotify, Amazon Music e YouTube Music embutidos em relação a uma sem estas funcionalidades? Em contrapartida, quanto você pagaria a mais em uma caixa de som bluetooth que possui a carcaça usinada em relação a uma que possui carcaça injetada, sendo que ambas possuem as mesmas funcionalidades?
Desta forma espero conseguir ter tangibilizado o conceito de comoditização da manufatura no ambiente metalmecânico, em especial, em relação aos fabricantes de máquinas e equipamentos. Sendo assim, trago a discussão da necessidade de discussão de uma inovação em modelo de negócios, baseada no conceito da curva sorriso.
O que mais estou lendo e dados interessantes atualizados:
O C4IR, Centro da Quarta Revolução Industrial, braço do Fórum Econômico Mundial, acaba de lançar o Guia de Manutenção Preditiva. Acesse o Guia aqui.
Indústria total x indústria de transformação. Muitas vezes não sabemos como a manufatura é classificada em termos de segmentos. Segue a definição da CNI:
A Indústria Total inclui as Indústrias: Extrativa, de Transformação, de Construção e os Serviços Industriais de Utilidade Pública (SIUP).
A Indústria de Transformação envolve a transformação física, química e biológica de materiais, substâncias e componentes com a finalidade de se obterem produtos novos.
Fonte: CNI, com base em dados do Sistema de Contas Nacionais (SCN) e da Pesquisa Industria Anual (PIA) - Empresa, IBGE Acesse as edições anteriores clicando aqui
Esta newsletter é uma publicação pessoal que contém apenas minha opinião e visão pessoal. Ela não representa nenhuma marca, empresa ou instituição citada.